Foto: Assessoria de Imprensa Divulga Escritor |
Alameda (1963), de Astrid Cabral, é um livro composto por vinte contos, nos quais os protagonistas causam certo estranhamento no leitor (um grão de feijão; a terra de uma praça; uma cerca de madeira etc.). Os narradores dos contos, quando em primeira pessoa, pertencem ao mundo vegetal. Suas sensações, anseios e vivências nos são relatados a partir de suas próprias vozes. E, quando em terceira pessoa, eles, muitas vezes, posicionam-se no mesmo nível dos personagens, recorrendo, em alguns casos, ao estilo indireto livre. Apresentação é de Leyla Leong e Fausto Cunha. O estudo crítico é de autoria de Antônio Paulo Graça.
Neste tipo de construção, realiza-se um processo de acercamento entre o humano e o vegetal, apresentando narradores com pontos de vista que podem ser considerados como híbridos, pois transitam entre os dois mundos.
Aqui e ali Astrid se realiza no poético, matizando com uma ironia sutil em que a transposição de planos constitui um desafio criador. É uma estreia numa vereda nova e difícil, que exige um grande domínio de cambiantes. A autora possui esse domínio. Seu livro lembra um pouco, na essência, aquela observação de Truman Capote, de que, para amar as pessoas, é preciso começar amando as folhas das árvores. E as laranjas.
Como escreveu a professora Edilaine Rodrigues em sua resenha sobre o livro 'Alameda', no site Ultraverso, Astrid Cabral aborda de maneira diferente as questões existenciais, visto que a morte não é um problema para as plantas, por exemplo, para elas o infortúnio é a infecundidade, que impossibilita a sua perpetuação no mundo, matando definitivamente as suas raízes.
A substituição das folhas e dos frutos é vista como a renovação trazida pelo outono, já a finidade precoce é encarada como acidente, normalmente ocasionado por quem não reconhece sua vitalidade ou ignora sua importância como ser vivo.
Diante dessa perspectiva, é algo interessante a descrição minuciosa feita para traduzir os sentimentos das árvores, das plantas, das flores, dos frutos e até mesmo dos lugares pavimentados e pisoteados sem piedade dia após dia. As características emocionais elevam a imaginação do leitor e humanizam o protagonista de cada conto, trazendo-o de certa forma para a realidade.
Além de
todos os atributos filosóficos, a obra atenta para as responsabilidades
ambientais que culminam na qualidade de vida e modelam o conceito de
existência. Vale muito a leitura.
Biografia
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