Maria Diovana Rolim*
Muitos são os modos que nos permitem conhecer perspectivas para além da nossa, especialmente aquelas que nem mesmo a imaginação é capaz de criar, ou aprisionar. O texto literário, como é certo para alguns de seus amantes, pode ser uma via de acesso ao que nos é desconhecido, misterioso e atraente, atravessando rios e mares, terras e céus, e alcançando, assim, o mais longínquo leitor, (re)apresentando-o ao mundo. Entretanto, tal como a palavra, possui variados sentidos, a depender do ângulo no qual é escrito e contemplado.
É sobre
tais aspectos que perspicazmente Neide Gondim volta seu olhar em A invenção da Amazônia, ensaio no qual
busca compreender e perceber, por meio da análise de textos produzidos por
estrangeiros cujo tema é a Amazônia, como as visões que se tem sobre ela foram
construídas não pela realidade palpável, mas, essencialmente, inventadas a
partir das ideias que tinham os colonizadores sobre o Novo Mundo, num conjunto
de mitos maravilhosos e aterrorizantes, promessas de cidades de ouro e fartura
de alimentos, postos de modo subserviente ao invasor europeu. Em seus quatro
capítulos, apresenta e estuda os elementos históricos, geográficos e culturais
que contribuíram para esse pensamento.
Contrariamente
ao que se possa supor, a Amazônia não foi descoberta, sequer foi construída. Na
realidade, a invenção da Amazônia se dá a partir da construção da Índia,
fabricada pela historiografia greco-romana, pelo relato dos peregrinos,
missionários, viajantes e comerciantes. (GONDIM, 2019, p.13).
A autora debruça-se sobre escritos como as cartas de Vespucci e o relato do frei Gaspar de Carvajal, chegando aos ficcionistas mais recentes, como Júlio Verne e Conan Doyle, que utilizam componentes da cultura local no bojo das narrativas de A jangada (1880) e O mundo perdido (1912), examinando-os minuciosa e brilhantemente e desvendando os pormenores de sua estrutura. Demonstra, dessa maneira, que a Amazônia é espaço geográfico, cultural e político, possuindo múltiplas facetas e significados, individuais e coletivos, que de forma alguma podem ser limitados por um mesmo discurso, mas vislumbrada por meio do exercício contínuo de reflexão.
GONDIM, Neide. A invenção
da Amazônia. Manaus: Valer. 3. ed. 2019.
*Pesquisadora em Linguística e Literatura e graduada em Letras pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), integra o Núcleo de revisão textual da Editora Valer desde 2022.
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